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“A entrada do labirinto é imediatamente um de seus centros, ou melhor, não sabemos mais se existe um centro, o que é um centro”.  Castoríades.

 

Com as instalações do artista Fabrício Carvalho, não estamos mais apenas diante do trabalho, estamos também, de maneira efetiva, diretamente inseridos nele. A experiência das relações espaciais no  ambiente que as contém são constantemente reconfiguradas na medida em que nos deslocamos entre as estruturas, construídas em adequação ao próprio espaço dado. Elas instauram um espaços ao invés de habitá-los.

 

O prefixo TRANS que precede o termo OBJETO da denominação que ele lhes confere, pode ser o ponto de partida para tentarmos compreender suas preocupações e questionamentos acerca do limite entre as coisas, como se algo estivesse potencialmente e de fato em constante necessidade de reorganização nas referências tanto espaciais quanto de significação, que estabelecemos com elas.

 

Em um artista como Fabrício, o vazio adquire uma dimensão significativa entre o lugar onde se dá o deslocamento do nosso corpo, ao mesmo tempo em que determina a configuração espacial das suas estruturas. Madeira, parafuso, borracha, fio de nylon e o vazio são os parcos materiais com que o artista se depara.para erigir suas inscrições lineares no espaço, ambiguamente inseridas entre escultura, arquitetura, estrutura, desenho e objeto.

 

Organizados em sistemas abertos e fechados ao mesmo tempo, de modo tanto seqüencial como não-sequencial, onde as ligações e ramificações sugerem tanto o aleatório como a predeterminação, entre trajeto e restauração do trajeto, são complexas como a estrutura que encontramos em um labirinto.

 

Objetos como espaços construídos. Puros trânsitos. As nossas usuais classificações já não nos são de grande valia, já não nos parecem tão estáveis, ou convergentes. Somos obrigados a considerar a necessidade de revê-Ias constantemente. De sempre relativizá-las. Contextualizá-las. É um convite à aventura, à incômoda perda das certezas.

 

A sensação de precariedade, que estas estruturas nos sugerem, adquire então uma carga, significativa que lhes agrega um valor que vai além do parâmetro estético, chegando até nós como uma espécie de metáfora de algo que simplesmente chamamos de Vida.

 

Texto Curatorial por ocasião da exposição "TransObjeto" - Fabrício Carvalho. Galeria Massangana - Fundação Joaquim Nabuco - Recife - PE - 2007

 

Comissão de Seleção: Paulo Venâncio Filho, Maria do Carmo de Siqueira Nino e Moacir dos Anjos

TRÂNSITOS ACÊNTRICOS - Maria do Carmo Nino 

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