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Há uma evidente ideia de construção presente nos trabalhos de Fabrício Carvalho que acho necessário ser esclarecida, até porque se essa ideia é algo que remete sua poética ao legado construtivo, ela o faz segundo exigências muito específicas.

 

Primeiro pelo fato de que esta proximidade se deve a algo mais instintivo que deliberado, como se tudo tivesse que simplesmente partir da ação de construir para alcançar a dignidade de se fazer pensar artisticamente.

 

Segundo porque basta percorrer com os olhos o conjunto de seu trabalho para que fique clara sua tara pela artesania, limando das obras justamente aquilo em que residia a sublimação do código estético construtivo: o acabamento industrial.

 

É claro que se trata mesmo de redefinir em uma perspectiva própria o esforço de construção. Até porque, no Brasil, a investida construtiva se deu mais pelo ímpeto pessoal de seus artistas que de uma ação objetiva e estrategicamente organizada, ao menos do ponto de vista político-cultural.

 

Mas no caso em questão, a ação do artista é mais, por assim dizer, imediata, orientada pelas circunstâncias e incidentes com a matéria. Em alguns casos Fabrício explora até mesmo o limite dos materiais, configurando situações inusitadas e, não raro, dramáticas.

 

É como se quisesse apostar na ação recorrente do gesto, por menor que fosse, para que se fizesse alcançado seu princípio de realidade. Um princípio que tomasse de saída o espaço, não em seu estado transcendental, mas sob o efeito que nele imprimem os materiais, com a marca, a presença e a energia investida pelo artista.

 

Assim, tudo ali leva propriamente à ideia de um fazer que resgate do anonimato ou da entropia as matérias, para lhes restituir uma realidade em perfeito desajuste com a vida, e reconhecer essa situação como o motor de sua poesia.

 

Mas se o fazer consiste no centro nervoso dessa poética, isso não se dá em detrimento do produto feito, da coisa acabada – o trabalho de arte – ainda que faça dele um campo de operações, com valores relativos ao tipo de proposta que é engendrada em cada caso. Aquilo que seria uma ideia de construção vê-se, então, substituída pelo ato construtor, enquanto experiência de redução que põe em suspenso noções vulgares de espaço e tempo, para retomá-los em um nível dialético em que se dão superadas as contradições entre pensamento e ação.

 

Gilton Monteiro, 2014

 

 

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