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Antes de tudo, pingos nos “is”: não se trata de uma instalação, mas de uma intervenção. Cada qual a sua maneira, muitos artistas contemporâneos exploram meios de intervir nos espaços. No caso em questão trata-se de uma investigação dos graus de evolução de uma estrutura no ambiente. A forma elementar é simples: o cubo. A partir daí o aparelho se desdobra em pontos máximos e mínimos de tensão.

 

Podemos dizer que se trata de uma intervenção performática do cubo, desbancando a condição ideal de exposição da obra. E contra tais formas de idealização evocaríamos o caráter rude da produção.

 

Eis um movimento que anula antecipações e prospecções, agindo a partir de ajustes e desajustes. Vê-se que a regularidade do método do artista é pautada, de modo a prevalecer sua moral: a persistência da regularidade em um sistema irregular.

 

Ali estão expostos certos jogos de tensões, com variações de aceleração. Uma relação de tempo-espaço que não coincide com a simetria estrutural do sistema minimalista, e sim faz reverberar a dinâmica dramática dos bem aventurados metaesquemas, ou ainda dos acoplamentos construtivos de um Volpi, por exemplo.

 

Creio que a forma desajeitada do sistema plástico muito sugere acerca da operacionalidade da coisa. A estrutura opera a indescritibilidade da forma: antes e depois se transpõem estabelecendo uma organização onde a própria lógica é desmascarada como uma espécie de versão absurda da vida.

 

Longe de simplificações a carcaça entrevê o mundo como um problema constante, a perene necessidade de se atirar contra as imposições da natureza e, no limite do próprio homem: a resistência ao planejamento e os entraves de uma ontologia.

 

Dissemos problema e não impasse. Nesse sentido a obra aspira à guinada positiva do ato interventor: desenlace de uma dinâmica afirmadora do real. Ora, contra a passividade dos ajustamentos ideológicos abstraindo a inerência dos instantes, a intervenção gera um problema.

 

De uma ponta a outra, a estrutura se desdobra retendo o olho sobre seus segmentos, evitando a apropriação total da coisa. É claro que, em alguns casos, o arranjo muito permite associações com estruturas zoomórficas, aspectos alusivos que não suspendem a predominância de sua atualidade. Tais construções se pretendem transformadoras, motivações in loco. E nada de construções de segunda ordem do real.

 

Texto curatorial por ocasião da exposição "TransObjeto" - Fabrício Carvalho. Galeria Maristella Tristão - Palácio das Artes - Belo Horizonte - MG.

 

Comissão de Seleção: Sávio  Reale, Francisco Magalhães,Maria Angélica Moraes,Sebastião Miguel e Tiago Mesquita

VARIAÇÕES SOBRE O CUBO - Gilton Monteiro Jr.

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