QUANDO A ARTE SE LANÇA À AVENIDA - Agnaldo Farias
“A proposta de Fabrício Carvalho resulta de expedições sistemáticas e atentas, embora sem rumo certo, feitas pelo artista pelas ruas da cidade, à cata de objetos abandonados, cadeiras, mesas, caixas, camas e armários – há uma nítida preferência por mobílias, produtos mais flagrantemente ligados ao corpo – que ele vai juntando sem um projeto prévio, antes à espera de que a lógica surja daquilo que encontra em associação com um lugar qualquer, ponto de ônibus, poste, árvore, a reentrância de um muro, um sítio que ele sinta propício à organização de uma construção, uma “situação-intervalo”, que é como o artista se refere a essas articulações asseguradas por cordas e pregos. Antes dispersos ao acaso, como se estivessem naufragados e em vias de desaparecer, os objetos atracam-se a esses fragmentos da cidade como em desespero, numa sintaxe agônica, uma arrumação que embora nítida não esconde sua precariedade, o adiamento de sua morte previsível e próxima. A familiaridade dos objetos, do lugar e mesmo das ações engenhosas que os enredou, choca-se como o produto final: um corpo insólito que irrompe nas calçadas interrompendo ainda que brevemente o fluxo inocente dos transeuntes.”
Vitória – ES – 2009.
8º Salão Bienal do Mar.
Comissão de seleção: Agnaldo Farias , Marilúcia Bottallo e Maria Helena Lindenberg